Huayana Potosi - Dia 1

 
A história até chegar ai

      Bem, a van tava marcada pra chegar na porta do meu hostel 8:30. Acho que 6:00 acordei sozinho e fiquei verificando se todas as minhas tralhas estavam arrumadas. Eu tinha que levar minha mochila cargueira praticamente vazia, porque me disseram que eu teria que carregar todo o equipamento. E isso era um problema, porque eu só tinha essa mochila e uma pequena de laptop.
      Acabou que coloquei as roupas que não ia levar, meu violão, minha mochila com meu laptop dentro da capa de proteção da cargueira e deixei (com receio) no depósito do Wild Rover. 
     Comi uns 6 pães com manteiga e geleia como de costume, e acabou que a van chegou exatamente as 8 e meia.
     Era só eu na van. E a propósito, van mais arrumada que vi até agora! Mas foi pouco tempo, fomos até a agência aqui perto para experimentar os equipamentos.
     Experimentei a bota, o capacete, calça, jaqueta e luvas, e conheci um alemão que ia fazer o passeio, mas sem o dia de treino. Ele ia fazer em apenas dois dias. Tinha 19 anos, era sua quarta ou quinta montanha, mas seria a mais alta. E chegaram um casal de americanos, que iam fazer o passeio comigo. Eu tava meio assustado de ser o único sem experiência até agora, mas o casal de americanos aparentemente não tinha experiência.
     Voltamos para van e andamos por cerca de duas horas, até chegarmos ao primeiro refúgio, na base da montanha. Bem legal o local, e conheci mais dois alemães que iriam fazer o passeio de 3 dias também, junto comigo. Um deles fazia parte da sociedade de alpinistas da Alemanha, então creio que eles tinham experiência né?
     Chegamos lá, conhecemos o local, e descobrimos que era carpete no segundo andar, então não podia andar de bota.
     Foi aí que aconteceu. Vou ter vergonha disso pro resto da minha existência... mas era a única solução. Tive que usar uma crocs. 
Primeira refeição no abrigo!
NÃO É MINHA ESSA CROCS. É da agência.
     Eu fiquei muito perdido ai. Você tem que botar sua calça quente, uma calça por cima, a calça-suspensório da agência, uma camisa segunda pele, uma camiseta, uma camisa de lã e a jaqueta da agência, 2 meias, a bota da agência (lembra muito um patins sem rodinhas), os crampons, que são aqueles espinhos que encaixam embaixo da bota, uma luva de lã, a luva da agência, um capuz seu, um capuz que tampa todo o rosto da agência, um capacete, pegar sua machadinha ou sei lá o nome daquilo, e colocar um encaixe para cordas na sua cintura. Enfim, tava me sentindo um transformers.
     Nesse treino, era só andar cerca de 25 minutos até uma geleira próxima, ir até uma parede de aproximadamente 10 metros, e escalar ela com duas machadinhas técnicas. Eu estava bem assustado, mas depois que fiz a primeira vez, acabei por me tocar que aquilo era como aquelas paredes de rapel que tem em shoppings de vez em quando, com cordas de proteção e tudo mais.
     Mas eu só fiquei tranquilo depois que me arrebentei todo. Eu não conseguia confiar nos parafusinhos da bota para segurar meu peso, então eu fazia MUITA força com o ante braço para segurar todo meu peso na mão, fora que o americano me falou (o guia não ensinou absolutamente nada) para não encravar o machado com muita força, mas eu colocava tanta força, que mal conseguia tirar ele para subir mais um pouco. E um detalhe, a corda era amarrada la em cima na machadinha enfiada na neve, e dava a volta e era presa no guia que devia ter 55 kilos... Então era meio complicado pra eu confiar né?
     Enfim eu cheguei la em cima, desci igual rapel, e subi mais uma vez. Mas quando acabou, eu não conseguia mover meus dedos da mão, e isso me assustou um pouco. E a propósito, havia apenas um guia para nós três, apesar de todos os lugares falarem que era proibido mais de duas pessoas por guia na geleira. E eu estava bem preocupado de acabar por atrasar o pessoal, porque se uma pessoa se sentir mal ou estiver cansado, o guia é obrigado a voltar, e ele não pode deixar ninguém sozinho, então a outra pessoa acaba sendo obrigada a voltar também. 
     E apesar deu achar que eles não tinham experiência até agora, eles estavam cruzando a América com bicicleta, então acho que preparo físico eles tem né? E algum tempo depois, descobri que o americano já tinha escalado inúmeras montanhas de gelo, e a namorada dele 'apenas' umas 10. Mas beleza.
     E o treino foi apenas isso. Voltamos para o abrigo e ficamos comendo (café, almoço, lanche e janta) até a hora de dormir, e conversamos bastante. Foi até bem interessante. Descobri como funciona as eleições nos EUA*, como é a religião na Alemanha, os problemas políticos nesses dois países, falei do brasil, falamos de estudo e etc... Enfim, foi muito divertido. Galera era bem legal!
     Anoite fui preparar minha primeira noite em um saco de dormir daquele tipo (até -15 graus), e até que foi tranquilo. Eu dormi bem pouco, mas era mais motivo de ansiedade mesmo. Não estava assim tão frio, apesar deu estar com 4 camisas, 2 calças, 2 meias e um saco de dormir, e a noite passou bem rápido.
     E eu fui usar o banheiro. Que era do lado de fora, e levemente aberto. Eu tive que colar muito papel na tampa do vaso pra usar... mas não porque era sujo. Porque quando eu sentei, sabe aquelas cenas de filme onde o ator gruda a língua num poste congelado? Pois é. Foi quase assim. Eu quase sai correndo pra fora do banheiro com as calças no joelho... Ia ser uma cena não muito agradável. 
     No outro dia, a coisa ia começar a ficar complicada.

SEGUNDO DIA:   Aqui
Chegando no treino
alá eu brincando de rapel! E com muito medo ahah

Na volta eu tava tão folgado que até tirei o capacete

Trilhazinha pra ir pro glacier do treino



Aqui nosso quartinho!

A comidinha era bem boa!




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